ANGELA CHAGAS
Três anos após ser sancionada a lei que instituiu o piso nacional dos professores, os municípios brasileiros ainda encontram dificuldades para cumprir com o salário de R$ 1.187 para uma jornada de 40 horas semanais.
Levantamento feito com exclusividade pelo Terra em todas as capitais brasileiras aponta que duas não cumprem com a legislação: Macapá (AP) e Porto Velho (RO). No entanto, segundo a Confederação Nacional dos Municípios, a situação é bem pior se levado em conta todas as prefeituras brasileiras.
Levantamento feito com exclusividade pelo Terra em todas as capitais brasileiras aponta que duas não cumprem com a legislação: Macapá (AP) e Porto Velho (RO). No entanto, segundo a Confederação Nacional dos Municípios, a situação é bem pior se levado em conta todas as prefeituras brasileiras.
"Muitos municípios e até Estados não têm como cumprir com a lei da maneira como ela foi proposta, isso quebra qualquer prefeitura. O MEC (Ministério da Educação) faz apenas demagogia com os professores e põe toda a culpa dos problemas da educação nos municípios", diz o presidente da CNM Paulo Ziulkoski.
De acordo com ele, as capitais estão em situação mais confortável porque o repasse dos recursos é maior, mas no geral a situação é crítica. Levantamento feito pela CNM em 1.851 municípios brasileiros, aponta que pelo menos 622 pagam valores inferiores ao estabelecido pela lei.
De acordo com ele, as capitais estão em situação mais confortável porque o repasse dos recursos é maior, mas no geral a situação é crítica. Levantamento feito pela CNM em 1.851 municípios brasileiros, aponta que pelo menos 622 pagam valores inferiores ao estabelecido pela lei.
Para o presidente da CNM, além de um valor elevado, o maior problema para os municípios é que a lei define que um terço da carga horária de professores seja destinada para a realização de atividades extraclasse, como planejamento pedagógico.
"A lei fere a autonomia dos municípios ao definir que um terço do período é para ficar fora da sala. Para cumprir isso, 290 mil professores precisam ser contratados pelas prefeituras. Quem vai pagar a conta?", questiona Ziulkoski.
"A lei fere a autonomia dos municípios ao definir que um terço do período é para ficar fora da sala. Para cumprir isso, 290 mil professores precisam ser contratados pelas prefeituras. Quem vai pagar a conta?", questiona Ziulkoski.
De acordo com o MEC, Estados e municípios podem pedir uma verba complementar para estender o piso nacional a todos os professores. Para conseguir o dinheiro, é preciso comprovar que aplica 25% da arrecadação em educação, como prevê a Constituição Federal, e que o pagamento do piso desequilibra as contas públicas.
Embora a portaria que aprova a complementação dos recursos tenha sido publicada em março, até o começo de dezembro nenhum Estado ou município havia cumprido com todos os requisitos para receber o dinheiro.
Embora a portaria que aprova a complementação dos recursos tenha sido publicada em março, até o começo de dezembro nenhum Estado ou município havia cumprido com todos os requisitos para receber o dinheiro.
Segundo o presidente da CNM, o ministério estipulou diversas exigências que tornaram "impossível" garantir a verba. "Eles cobram até que se tenha uma contabilidade própria apenas para os recursos da educação. Eles dizem que é para ter transparência, mas é só demagogia para culpar as prefeituras", afirma.
Já o MEC, por meio de sua assessoria, informou que os municípios não conseguem cumprir com as exigência porque "não há foco na educação". De acordo com o ministério, os recursos estão disponíveis para auxiliar todas as prefeituras que "realmente precisam da complementação da verba".
Por que é difícil pagar o piso?
Ziulkoski aponta três fatores como determinantes para dificultar o cumprimento da lei pelos municípios:
O próprio valor do piso, que incide sobre o vencimento básico (assim todas as vantagens, como tempo de carreira, devem ser pagas a partir do mínimo), a correção do valor com base no custo do aluno pelo Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica (Fundeb) e não pela inflação (com base no fundo, o reajuste para o ano que vem deve ficar em torno de 23%, o que seria insustentável pelos municípios já que a receita não cresceu nesta proporção), e ainda a necessidade de cumprir com um terço da carga horária fora da sala de aula.
Ziulkoski aponta três fatores como determinantes para dificultar o cumprimento da lei pelos municípios:
O próprio valor do piso, que incide sobre o vencimento básico (assim todas as vantagens, como tempo de carreira, devem ser pagas a partir do mínimo), a correção do valor com base no custo do aluno pelo Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica (Fundeb) e não pela inflação (com base no fundo, o reajuste para o ano que vem deve ficar em torno de 23%, o que seria insustentável pelos municípios já que a receita não cresceu nesta proporção), e ainda a necessidade de cumprir com um terço da carga horária fora da sala de aula.
"Não somos contra reajustar o salário dos professores. Eu acho que bons salários é um dos pilares para a qualidade da educação. Mas da forma como a lei foi feita e ratificada pelo STF (Supremo Tribunal Federal) o que acontece é mais prejuízo para a educação, pois os municípios precisam gastar todo o seu orçamento com o salário e deixar de investir na manutenção das escolas, na construção de novas unidades, na melhoria da estrutura", aponta.
De acordo com ele, este ano mais de 800 municípios brasileiros gastaram 100% dos recursos do Fundeb apenas com o pagamento da folha dos docentes.
De acordo com ele, este ano mais de 800 municípios brasileiros gastaram 100% dos recursos do Fundeb apenas com o pagamento da folha dos docentes.
CNTE critica municípios: educação deve ser prioridade
O diretor de Assuntos Educacionais da Confederação Nacional dos Trabalhadores da Educação (CNTE), Heleno Araújo, critica a posição dos municípios.
"A confederação (CNM) deveria orientar os prefeitos a cumprir com a lei. Se o município não tiver condições, que peça recursos da União para complementar. Mas para isso precisa mostrar sua prestação de contas, quanto investe em educação. O problema é que os prefeitos não são orientados a ser transparentes, por isso não conseguem os recursos", diz.
O diretor de Assuntos Educacionais da Confederação Nacional dos Trabalhadores da Educação (CNTE), Heleno Araújo, critica a posição dos municípios.
"A confederação (CNM) deveria orientar os prefeitos a cumprir com a lei. Se o município não tiver condições, que peça recursos da União para complementar. Mas para isso precisa mostrar sua prestação de contas, quanto investe em educação. O problema é que os prefeitos não são orientados a ser transparentes, por isso não conseguem os recursos", diz.
Segundo Araújo, a educação precisa ser definida como uma prioridade dos governantes.
"Temos aqui uma grande contradição porque prefeitos e governadores, que na época das eleições dizem que o ensino é prioridade, esquecem-se disso ao assumir o cargo", afirma ao citar o governador do Rio Grande do Sul, Tarso Genro (PT), que assinou a lei quando era ministro do governo Lula, em 2008, mas como governador do Estado ainda não cumpre com o pagamento do piso.
"Esse é um grande equívoco do governador. Os nossos sindicatos filiados estão orientados a cobrar no STF o pagamento imediato", completa.
"Temos aqui uma grande contradição porque prefeitos e governadores, que na época das eleições dizem que o ensino é prioridade, esquecem-se disso ao assumir o cargo", afirma ao citar o governador do Rio Grande do Sul, Tarso Genro (PT), que assinou a lei quando era ministro do governo Lula, em 2008, mas como governador do Estado ainda não cumpre com o pagamento do piso.
"Esse é um grande equívoco do governador. Os nossos sindicatos filiados estão orientados a cobrar no STF o pagamento imediato", completa.
Para o presidente da Confederação dos Municípios, essa "mudança de discurso" mostra que muitos políticos não conhecem a realidade dos Estados e municípios. "Escrever uma lei é muito fácil, o complicado é cumpri-la. Quero ver se o Haddad (ministro da Educação), se for eleito prefeito de São Paulo, vai seguir com o mesmo discurso", completa.
De acordo com a Secretaria de Educação do Rio Grande do Sul, o governador Tarso Genro assumiu o compromisso de pagar o piso a todos os professores até 2014. Um cronograma de reajuste gradual deve ser apresentado à categoria.
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