quinta-feira, 26 de agosto de 2010

Dilma e o "governo generoso" por Paulo Ghiraldelli UFRRJ

Dilma e o "governo generoso"

Caso a eleição fosse nesses dias, Dilma venceria Serra. Se tudo continuar no ritmo que está, Lula conseguirá fazer Dilma sua sucessora, derrotando o que, no cômputo do espectro político atual, seria a direita.
Qual o novo desafio de um presidente que, diferente de todos os anteriores desde 1985, não só fez oposição ao Regime Militar (1964-1985), mas pegou em armas contra o estado de exceção?
Alguns diriam que essa pergunta não cabe. Que não vale avaliar os compromissos que Dilma tem com ela mesma a partir de uma sua posição tomada na juventude. Pois isso, enfim, não valeria para ninguém. Não concordo. Lá nos recônditos dos neurônios de Dilma, eu aposto, sobrou sim o peso da cadeia, de estar contra tudo e contra todos em um tempo. Isso vai estar presente no dia em que ela ganhar a caneta de Presidente da República. Como ela agirá?
Lula tinha tudo para ser um ressentido. Não foi. Alguns esperam de Dilma traços autoritários por conta de ressentimento. Podem dar com os burros n’água do mesmo modo que ocorreu quando pré-julgaram Lula. Dilma está prometendo um “governo generoso”. É exatamente isso que quero dela.
O que é um “governo generoso”? A idéia que faço e, creio eu, estou entendendo bem o que ela quer dizer, é o seguinte: o governo vai antes dar que cobrar. Essa foi a característica do governo Lula. Promoção das pessoas sem grandes cobranças. Parece que Dilma entende que ainda são necessários mais alguns anos desse tipo de política.  Muitos acham que isso é populismo. Não creio que é necessariamente populismo. O correto será avaliar caso a caso. Há certos setores sociais que poderão ganhar doações e serem cobrados socialmente para ficarem à altura das doações. Há setores sociais que irão receber apenas, e ainda não serão cobrados. A melhor política social de um “governo generoso” é a que fizer isso com inteligência e harmonia.
Penso que um setor que deveria ser tratado com generosidade, até porque isso nunca ocorreu em nossa história, é o da educação. Aos profissionais da educação, principalmente nos níveis fundamentais, deveria ser dada uma política de incentivo de ganhos concretos, desvinculados de grandes cobranças de “produtividade”. Penso que se isso ocorrer, Dilma irá, finalmente, atuar como um presidente diferente. Pois é na educação que não saímos do lodo e é nesse campo que nunca foi tentada uma política generosa. Tudo que é dado na educação, para o professor, é de forma mesquinha, e com uma cobrança enorme em termos de retorno – em todos sentidos. Em geral, retorno burocrático, cansativo e até como armadilha para acionar mecanismos punitivos.
Um governo de esquerda, generoso, como Dilma está anunciado, deveria inaugurar uma série de bolsas para o professorado do ensino básico, mas sem cobranças, como o que foi feito com outros setores sociais na Era Lula. Creio que teríamos uma boa surpresa se os professores tivessem bolsas para comprar livros, bolsas para estudar, sabáticas remuneradas para se engajarem em atividades culturais, dinheiro extra para jornais, revistas, teatro e manutenção privada de Internet. Quatro anos assim e daríamos um salto nos exames do PISA. Tenho certeza.
Um governo generoso no campo educacional é a única novidade em política social que Dilma poderia fazer sendo realmente novidade. Daria certo.

© 2010 Paulo Ghiraldelli Jr., filósofo, escritor e professor da UFRRJ

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