terça-feira, 13 de novembro de 2012

Artimanhas para Sobreviver - Comunidade do Sítio do Meio em Pentecoste Ceará!


A aridez extrema do clima em Pentecoste, pegando fogo às 10 da manhã, não desfez as aulas na Escola de Ensino Infantil e Fundamental João Rodrigues Cordeiro. Sim, alterou o cotidiano de três professores e dos 47 estudantes de 3 a 16 anos que experimentam do maternal ao 7º ano. Por causa da falta d’água, na manhã em que estivemos no lugarejo de Sítio do Meio (um poeiral grande quando o automóvel passa e caatinga desmatada), a aula teve de terminar mais cedo. À tarde não funcionou. 

Naquele dia (e em alguns outros) faltou água de beber e para cozinhar a merenda. Mas Lindomar Rocha de Alcântara, 39, professor polivalente, pai de aluno e coordenador do colégio, se desdobrava em sua moto nas estradas de areia e pedra para resolver o reabastecimento de uma cisterna e uma caixa d’água de 5 mil metros cúbicos. O carro-pipa viria, estava certo. “Nesse tempo é assim mesmo. Mas a escola não fecha”, garantia na palavra. Confiante.

Fechar, fechar, não é a seca que põe em risco a continuidade da escola municipal. Pior do que a estiagem, confidencia Lindomar Rocha, são os “interesses imprevisíveis da politicagem”. Em 2009, a pequena João Rodrigues Cordeiro só não parou de funcionar porque o professor reuniu boa parte das 72 famílias da Associação de Moradores de Sítio do Meio para que evitassem um prejuízo ainda maior para meninos e meninas daquele pedaço do semiárido.

A justificativa para o fechamento, explicava Lindomar Rocha, seria uma atecnia burocrática que retirava da escola o direito de receber investimentos dos governos Federal e Estadual. Porque funciona num prédio da Associação de Moradores é como se não existisse no mapa do Ministério da Educação. “Em 2008, depois de muito impasse e reuniões, a Secretaria da Educação de Pentecoste e do Estado prometeram construir um novo espaço para abrigar a escola”, pontuava.

Mas a interferência de um vereador à cata de eleitores e a reclamação de que a nova escola seria construída distante das casas dos estudantes de Sítio do Meio inviabilizaram a obra. Enquanto isso, relatórios da própria Vigilância Sanitária de Pentecoste atestam, desde então, “que o teto tem de ser refeito, que as paredes estão rachadas, que as portas têm de ser trocadas e novas carteiras adquiridas...”, mostrava, papelada na mão, Lindomar Rocha.

No dia em que estivemos em Sítio do Meio seguindo o rastro da seca deste ano, numa manhã de uma terça-feira (16/10) de mormaço, o burburinho de alunos nem passava recibo sobre os problemas ali existentes. Porque o transporte escolar está quebrado há meses, boa parte da meninada ia voltar pra casa a pé. Acompanhados hora pelo que ainda resta de mata branca ou por grandes vazios de pasto e desertificação. E também pelo incentivo de um professor que não se rende aos tempos de deserto: seja político, seja da natureza.

*O POVO entrou em contato com a Secretaria da Educação de Pentecoste por telefone e email, mas não obteve retorno. (Demitri Túlio/Cláudio Ribeiro) 

47 ALUNOS de 3 a 16 anos estudam na Escola de Ensino Fundamental João Rodrigues Cordeiro, em Sítio do Meio (Pentecoste), dirigida pelo professor Lindomar Rocha. 

Fonte: O Povo

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