Dia
20 de novembro dia da consciência negra, data escolhida em homenagem a
Zumbi dos Palmares que morreu nessa data no ano de 1695 e foi símbolo da
resistência, da luta do povo negro por liberdade.
E agora em pleno século XXI, como esta a situação do negro na sociedade brasileira?
Hoje vamos debater dois pontos cruciais Educação e Violência,
mas antes vamos recordar duas informações de extra importância: O
Brasil foi o último pais da América a abolir a escravidão. E somos o
país com a maior população de negros fora do continente africano segundo
estimativas do IBGE censo 2010 há 100 milhões de habitantes negros no
Brasil que equivale a 51% da população total.
Mesmo representando metade da população
os negros sofrem com as seqüelas da escravidão. O racismo impera em
nossa sociedade os indicadores sociais mostram o fosso que existe entre
negros e brancos.
No Brasil em média o negro estuda 2,1
anos a menos que um branco, e os que conseguem concluir o ensino
superior não chega nem a 5%. E a taxa de assassinatos de pessoas negras é
infinitamente superior a de pessoas brancas. Os negros são mais
vulneráveis a violência, porque sofrem as conseqüências do racismo.
O Hip Hop nacional vem travando uma dura
luta contra o racismo, e o rap nacional com suas letras fortes e
contundentes há anos denuncia o extermínio da população negra.
Vários manos da periferia encontraram no
rap uma alternativa de vida , mas nem todos serão cantores ou terão
grupos é preciso que além de rappers , também tenham médicos,
professores, advogados, jornalistas entre outros muitos profissionais
Os negros precisam esta inseridos em
todas as áreas, não é possível admitir que negros só possam ser cantores
ou jogadores de futebol.
A
educação é a chave do conhecimento que liberta, que revoluciona e por
isso mesmo que não será dada pelo sistema, será preciso lutar por ela.
Como o nosso povo pode enfrentar a violência imposta pelo Estado racista brasileiro?
O Portal Rap Nacional trouxe para o debate o Douglas Belchior
professor de História, Educador Social, militante socialista atuante
no movimento negro, coordenador da União de Nucleos de Educação Popular
Para Negros/as e Classe Trabalhadora (Uneafro-Brasil).
Confira nosso bate papo sobre genocídio da população negra, educação e movimento hip hop
Portal Rap
Nacional : Segundo o IBGE em pesquisa divulgado em 2010, entre 2000 a
2008 a taxa de homicídios de pessoas negras foram superior a de pessoa
brancas , como a Uneafro encara esses dados ?
Douglas Belchior : A
taxa de homicídios cuja a vítima é a população negra sempre foi
superior. Em 2009 a Secretaria Especial dos Direitos Humanos, UNICEF e o
Observatório de Favelas divulgam resultados de sua pesquisa, e os dados
são estarrecedores: 33,5 mil jovens serão executados no Brasil no curto
período de 2006 a 2012. Os estudos apontam que os jovens negros têm
risco quase três vezes maior de serem executados em comparação aos
brancos. Já o “Mapa da Violência 2011: os jovens do Brasil”, em 2002, em
cada grupo de 100 mil negros, 30 foram assassinados. Esse número saltou
para 33,6 em 2008; enquanto entre os brancos, o número de mortos por
homicídio, que era de 20,6 por 100 mil, caiu para 15,9. A população
negra é, historicamente, feita de “bucha de canhão” para os interesses
das elites racistas no Brasil.
Com o fim da Escravidão, período em que
negro escravizado era super-valorizado como mercadoria, essa população
não só foi “descartada”, como passou a ser alvo de um projeto de
extermínio. Esse projeto se inicia com a imigração européia, a partir da
política de embranquecimento da população. Essa ação, a partir do
Estado, continua até nossos dias: a miséria, a falta de serviços básicos
como saúde, educação e moradia e principalmente a partir da política de
“segurança pública” que condena a população negra ao encarceramento nos
presídios e fundações, quando não assassinadas, como acontece de
maneira explícita no Brasil. Nós da UNEafro-Brasil denunciamos o
Genocídio da Juventude Negra como ação promovida pelo Estado Brasileiro.
P.R.N: Qual a melhor forma de enfrentamento do genocídio que a população negra continua sofrendo ?
Douglas Belchior: Em
São Paulo, ao lado de movimentos tais como Circulo Palmarino, MNU,
Consulta Popular, Levante Popular, Tribunal Popular, Fórum de Hip-Hop
entre outras organizações, construímos o Comitê de Luta Contra o
Genocídio, que tem feito ações importantes de denúncia e formação
política em comunidades, além de atos públicos e intervenções na
Assembléia Legislativa do Estado, no próprio Poder Executivo e
nas instâncias do Poder Judiciário. Sabemos das limitações em denunciar
o Estado para o próprio Estado. Por isso, gastamos a maior parte de
nossa energia organizando trabalhos de base, seminários, formação em
Cursinhos Comunitários e Escolas. A ideia é provocar nossa organização
para resistir e lutar. Iniciativas como essa estão acontecendo em todo o
país.
P.R.N: Sabemos que a educação é
uma das formas de inclusão que a Uneafro trabalha, as políticas
públicas vigentes voltadas para os negros e pobres, estão surtindo
efeitos?
Douglas Belchior : O
racismo é constitutivo do capitalismo brasileiro. É uma ideologia de
dominação sem a qual a elite brasileira não se manteria. Esse quadro
explica, em parte, o fato de a Lei 10639/03 (alterada pela lei
11645/08), apesar de sua histórica e festejada aprovação, não ter saído
do papel. Afinal, sua intenção é justamente contribuir para a superação
dos preconceitos e atitudes discriminatórias por meio de práticas
pedagógicas que incluam o estudo da influência africana e indígena na
cultura nacional.
É necessário trabalhar para que o Plano
Nacional de Educação – PNE, que volta a ser debatido, contemple a
necessidade de radicalizar na efetivação das leis 10639/03 e 11645/08. E
mais que isso: Em tempos de reivindicação pelo aumento dos
investimentos em educação para a ordem de 10% do PIB, a UNEafro-Brasil
propõe uma bandeira paralela tão importante quanto: a obrigatoriedade da
destinação de, no mínimo, 10% dos recursos da educação de municípios,
estados e federação para a aplicação das Leis 10639/03 e 11645/08. É
preciso também regulamentar punições severas aos gestores públicos que
as descumprirem.
A educação, num sentido ampliado, é tudo
o que rodeia e forma o indivíduo, seja na escola formal, no ambiente
familiar, nos diversos espaços de sociabilidade. E hoje, mais que nunca,
também através dos meios de comunicação, em especial a televisão, a
produção cultural (sobretudo na música) e as redes sociais da internet.
Essa realidade nos coloca o desafio de pensar numa radical reformulação
da educação brasileira, não apenas no que diz respeito aos recursos, mas
ao modelo educacional, aos valores e aos métodos.
P.R.N: Nesse 20 de novembro de 2011, o que pode ser comemorado?
Douglas Belchior : Dos
16 milhões de pessoas em condições sociais abaixo da linha da miséria,
70% são negros; Doa 14 milhões de Analfabetos no Brasil, 70% são negros;
O Desemprego continua atingindo em maiores proporção a população negra,
mesmo aqueles com qualificação profissional; Mulheres negras sofrem em
dobro com o racismo e o machismo, são mal tratadas nos serviços de
saúde, são desvalorizadas no trabalho e sofrem mais com violência
doméstica e todos os tipos de assédios. A população negra é a que mais
precisa do SUS- Serviço Único de Saúde, e é também a que tem mais
dificuldade no acesso.
A população Quilombola não tem sua
ancestralidade respeitada e suas terras continuam sem titulações; As
religiões de matriz africana continuam perseguidas e desrespeitadas; A
juventude negra continua a ser assassinada; o Estatuto da Igualdade
Racial é uma mentira e as principais Universidades no Brasil, a USP por
exemplo, recusam -se a implantar Cotas para Negros; O que há para
comemorar? Nossa coragem e nossa resistência. Somos mais de 50% da
população Brasileira. Mudar o Brasil pra melhor é nossa
responsabilidade!
P.R.N: Quais as principais bandeiras de luta em pauta pelos movimentos nesse feriado?
Douglas Belchior: Há
bandeiras, infelizmente permanentes: Contra O Genocídio da Juventude
Negra; Contra o Machismo e a violência dirigida a mulher negra; Pelo
feriado Nacional, Por um Estatuto da Igualdade Racial com caráter
determinativo; por Cotas para negros/as em universidades, concursos
públicos, partidos políticos, e mídias. Lutamos sobre tudo contra o
racismo, o maior câncer da sociedade brasileira.
P.R.N: Articulação entre os movimentos sociais junto com o movimento hip hop o que falta para estreitar os laços?
Douglas Belchior: Nós
da UNEafro-Brasil respeitamos e admiramos o Hip-Hop Nacional por sua
natureza contestadora e revolucionária. O Hip-Hop popularizou a luta
contra o racismo e a denúncia da violência policial em todo o país.
Evidente que o capital busca cooptar os talentos e a própria cultura
pelo poder da grana, mas somos muito confiantes naqueles que levam a
bandeira da Cultura Hip-Hop de raiz, da luta negra e da justiça.
A militância política tem muito a
aprender com o Movimento Hip-Hop, assim como o o Movimento Hip-Hop tem
bastante a aprimorar com os grupos de estudo e de militância política.
Precisamos construir esses espaços de encontro e de formação em comum,
com tempo e paciência para estudar, debater e construir ações comuns.
Motivos para lutar juntos não faltam. O Hip-Hop será a trilha sonora da
Revolução Brasileira!
Esperamos
que todos possam refletir em cima dessa matéria, porque é nóis por
nóis, movimento HIP HOP, movimento negro, movimentos sociais diversos.
Somente a UNIÃO e a LUTA em conjunto será capaz de nós proporcionar a vitória , juntos somos fortes.
AXÉ…
Texto e Entrevista : Paula Farias
@paullafariass
Douglas Belchior
Uneafro http://www.uneafrobrasil.org/
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