EEM
ETELVINA BEZERRA
SOCIOLOGIA
– 3º ANO – PROFESSOR DANÚSIO ALMEIDA
Cultura
e Sociedade
Cultura,
de forma bastante geral, pode ser definida como “a parte do
ambiente feita pelo homem”. Essa definição, elaborada pelo
antropólogo Melville Herkovits, nos traz um elemento fundamental
para pensarmos as questões ligadas à dimensão sóciohistórica da
humanidade: o fato de que o que entendemos por cultura ser,
fundamentalmente, algo construído pelos seres humanos. A dimensão
cultural, portanto, não é algo dado, natural, mas uma intervenção
ampla dos seres humanos naquilo que conhecemos por natureza. Como
somos seres vivos, partimos, obviamente, de nossa condição
biológica, dependente do meio natural; entretanto, essa mesma
condição é constantemente modificada pela tecnologia (entendida
aqui em seu sentido
amplo)
e pelo trabalho humanos. É bom lembrar, também, que a noção de
cultura envolve tanto uma dimensão material, ligada a instrumentos e
objetos (de brinquedos a chaves de fenda, passando pelo vestuário e
também pelos alimentos que consumimos), como uma dimensão não
material (as visões de mundo, as formas e padrões de comportamento,
as diversas religiões). Também é importante colocar que essas
dimensões não são isoladas e se relacionam a todo momento. Assim,
há um fator importantíssimo, quando falamos em cultura, que é
pensá-la como um elemento das sociedades humanas que articula o
aspecto material e o aspecto simbólico.
Um
exemplo bastante simples e facilmente observável é o uso do
vestuário. Usamos as roupas por pelo menos três motivos, em maior
ou menor grau: a necessidade de proteção (em áreas do mundo ou
situações em que isso seja necessário), o desejo de enfeitar-nos e
o pudor (a vergonha em relação à nudez pública).
No
entanto, há regras para o uso das diversas formas de vestuário
dependendo da situação ou contexto em que nos encontremos: no
Brasil, não podemos (ou não devemos) ir a um casamento ou formatura
em trajes de banho (e provavelmente mesmo que cerimônias estejam
sendo realizadas em uma praia). O que determina essa atitude é o
significado atribuído socialmente a esta ou aquela forma de
vestuário, para além do fato de ser esteticamente interessante ou
cobrir nossa nudez.
Assim,
tão importante — ou mais até — que a utilidade concreta de um
objeto ou utensílio cultural, é o sentido simbólico atribuído a
ele. Dessa forma, ao vivermos em sociedade, partilharmos objetos,
sentimentos e símbolos através dos quais construímos uma ideia de
identidade. A partir desse raciocínio, podemos problematizar a noção
de identidade cultural, no sentido de ampliá-la e verificar como
essa visão ampliada pode ser útil no entendimento da diversidade
constitutiva de todas as sociedades. O antropólogo norte-americano
Ralph Linton, escrevendo sobre a difusão cultural, no livro O homem:
uma introdução à antropologia, afirma que, na grande maioria das
sociedades humanas, a maior parte das invenções e descobertas
partilhadas tem origem em sociedades diferentes, ou seja, muitas
vezes o que chamamos de “típico” ou “comum” em termos
culturais pode ter tido origem em outro país ou sociedade. Num
trecho bastante interessante, escreve Linton que a vida cotidiana de
um cidadão norte-americano “típico” contém elementos de outras
sociedades: o papel, inventado na China; o vidro, originário do
Egito; os talheres, inventados na Índia e na Europa; a imprensa,
processo inventado na Alemanha; o inglês é uma língua
indo-europeia e o Deus cristão, uma divindade de origem hebraica.
Dessa
exposição podemos depreender, de um lado, que a diversidade e a
diferença são elementos constitutivos das culturas humanas e que as
formas de preconceito cultural são, dessa forma, uma manifestação
clara da ignorância dos processos históricos e das trocas
culturais. Por outro lado, podemos verificar também que a noção de
identidade cultural, como uma forma de perten- cimento a esta ou
àquela sociedade específica é assim, como nos diz ainda outro
antropólogo, o professor Renato Ortiz, uma “construção
simbólica”, ou seja, um recorte de elementos aos quais atribuímos
um sentido de nacionalidade e que pode ser modificado ao longo do
tempo. É só lembrarmos que no Brasil o samba, que já foi um gênero
musical ligado à marginalidade e à “malandragem”,
transformou-se em um dos símbolos nacionais. E assim, hoje, “quem
não gosta, de samba, bom sujeito não é”. Cultura, diferença e
identidade. Caio Aguilar Fernandes Professor de sociologia no ensino
médio
Disponível
em: http://www.sejaetico.com.br/
Questões
01.
Segundo o texto, elementos culturais
advindos de outras sociedades podem ser ressignificados e tornar-se
parte da cultura de uma sociedade, ou de um segmento desta. O rap,
gênero musical surgido a partir de trocas culturais entre Jamaica e
Estados Unidos, pode ser considerado, hoje, parte da cultura
brasileira? Por quê?
02.
Comente a polarização entre cultura
popular e cultura erudita.
03.
Diferencie cultura material e
imaterial
Cultura
e Ideologia
A
alienação social se exprime numa “teoria” do conhecimento
espontânea, formando o senso comum da sociedade. Por seu intermédio,
são imaginadas explicações e justificativas para a realidade
tal como é diretamente percebida e vivida.
Um
exemplo desse senso comum aparece no caso da “explicação da
pobreza, em que o pobre é pobre por sua própria culpa (preguiça,
ignorância) ou por vontade divina ou por inferioridade natural. Esse
senso comum social, na verdade, é o resultado de uma elaboração
intelectual sobre a realidade, feita pelos pensadores ou intelectuais
da sociedade — sacerdotes, filósofos. cientistas, professores,
escritores, jornalistas, artistas — , que descrevem e explicam o
mundo a partir do ponto de vista da classe a que pertencem e que é a
classe dominante de sua sociedade. Essa elaboração intelectual
incorporada pelo senso comum social é a ideologia. Por meio dela, o
ponto de vista, as opiniões e as ideias de uma das classes sociais —
a dominante e dirigente — tornam-se o ponto de vista e a opinião
de todas as classes e de toda a sociedade.
A
função principal da ideologia é ocultar e dissimular as divisões
sociais e políticas, dar-lhes a aparência de indivisão e de
diferenças naturais entre os seres humanos. Indivisão: apesar da
divisão social das classes, somos levados a crer que somos todos
iguais porque participamos da ideia de “humanidade”, ou da ideia
de “nação” e “pátria”, ou da ideia de “raça”, etc.
Diferenças naturais: somos levados a crer que as desigualdades
sociais, econômicas e políticas não são produzidas pela divisão
social das classes, mas por diferenças individuais dos talentos e
das capacidades, da inteligência, da força de vontade maior ou
menor, etc.
A
produção ideológica da ilusão social tem como finalidade fazer
com que todas as classes sociais aceitem as condições em que vivem,
julgando-as naturais, normais, corretas, justas, sem pretender
transformá-las ou conhecê-las realmente, sem levar em conta que há
uma contradição profunda entre as condições reais em que vivemos
e as ideias.
Por
exemplo, a ideologia afirma que somos todos cidadãos e, portanto,
temos todos os mesmos direitos sociais, econômicos, políticos e
culturais. No entanto, sabemos que isso não acontece de fato: as
crianças de rua não têm direitos; os idosos não têm direitos; os
direitos culturais das crianças nas escolas públicas é inferior
aos das crianças que estão em escolas particulares, pois o ensino
não é de mesma qualidade em ambas; os negros e índios são
discriminados como inferiores; os homossexuais são perseguidos como
pervertidos, etc. A maioria, porém, acredita que o fato de ser
eleitor, pagar as dívidas e contribuir com os impostos já nos faz
cidadãos, sem considerar as condições concretas que fazem alguns
serem mais cidadãos do que outros. A função da ideologia é
impedirnos de pensar nessas coisas.
(CHAUÍ,
Marilena. Convite à
filosofia. 13 ed. São Paulo:
Ática, 2003, p. 174-5)
Questões
01.
O texto acima trata do conceito de
ideologia segundo a perspectiva de Karl Marx. Defina esse conceito de
ideologia.
02.
“A ideologia é uma forma de
alienação.” Comente essa afirmação.
03.
Explique a relação entre a
ideologia e os meios de comunicação.
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