Apesar de pouco discutido, o racismo na infância e nas escolas existe
e precisa ser enfrentado, na opinião de professores e especialistas.
Eles destacam a pouca representação de crianças negras nos meios de
comunicação como uma das causas do problema.
Professora da Faculdade de Educação da Universidade de Brasília (UnB)
e coordenadora do Núcleo de Estudos Afro-Brasileiros da instituição,
Renísia Garcia Filice acredita que o racismo existe dentro das escolas e
ocorre de forma cruel, efetiva e naturalizada. Para ela, essa atitude
na infância é fruto do que a criança viu ou vivenciou fora do ambiente
escolar.
“A criança pode ter vivenciado isso numa postura dos pais, em algum
comentário ou até em algo que os professores fizeram ou deixaram de
fazer”, diz Renísia. Segundo ela, alguns professores se omitem em
situações de racismo pela falta de informação, por naturalizar os casos
ou achar que não é um problema. “Por isso, são necessárias práticas
pedagógicas para que as crianças se percebam iguais e com iguais
direitos”, acrescenta.
Ildete Batista dá aula para crianças de 5 anos em uma escola no
Distrito Federal. Ela afirma que as questões raciais aparecem
principalmente no momento de disputa e durante as brincadeiras.
Professora há mais de 20 anos, Ildete afirma que faltam referências para
as crianças. “O que fica como belo é o que se aparece na TV, nos livros
– inclusive nos materiais didáticos. A gente vê muitas propagandas,
livros de histórias infantis em que os personagens são brancos”.
Segundo o professor do curso de direito da UnB Johnatan Razen, quando
há ofensas entre crianças, no colégio, os pais devem relatar o caso à
escola, para a que a instituição promova ações educativas. “Se o caso
envolver um professor ou a ofensa vier da instituição – como obrigar uma
aluna a alisar o cabelo –, cabe acionar a Justiça”, orienta. Se tiver
conhecimento de atitudes racistas dentro do espaço e se omitir, a escola
também pode ser responsabilizada penalmente, de acordo com Razen.
Para a professora do curso de comunicação social da Universidade
Católica de Brasília (UCB) Isabel Clavelin, há uma tendência de aumento
na representação de crianças negras nos meios de comunicação, nos
últimos anos. “Mas elas figuram em papéis de coadjuvantes, e a
representação está aquém da proporção de negros no Brasil”, diz a
pesquisadora.
A escritora Kiussam de Oliviera, que trabalha com a literatura
infantil com o objetivo de fortalecer a identidade das crianças negras,
afirma que falta representação positiva. “Em um país de maioria negra,
não se justifica uma televisão totalmente branca, como nós temos. A
partir do momento que as emissoras entenderem que o público negro é
grande, nós viveremos uma fase diferente desta que estamos passando,
onde há violência por conta da cor da pele, agressões focadas na raça –
cada vez mais banalizada”.
(Agência Brasil)
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