sexta-feira, 29 de outubro de 2010

Português faz protesto inusitado e cava por 48 horas

José Hermínio quer chamar a atenção do poder público para a falta de emprego. Vai cavar por dois dias (IGOR DE MELO)

Um protesto inédito. Português resolve cavar durante 48 horas para chamar atenção das pessoas

23.10.201002:00


Camisa de tecido leve, bermuda, um boné para se proteger do sol ou do sereno da noite e as ferramentas necessárias: três enxadas e dois ancinhos (ciscadores). O português José Hermínio de Azevedo Moreira se prepara para uma maratona de dois dias ininterruptos de trabalho. Uma forma que ele encontrou para protestar porque, aos 49 anos, não encontra emprego.

Nascido na cidade de Chaves, ao norte de Portugal, José Hermínio está no Brasil desde fevereiro do ano passado. Veio para casar com uma potiguar da praia de Tibau, em Mossoró, mas a união só durou alguns meses. Encontrou uma cearense e está vivendo com ela num sítio em Paracuru, no Litoral Oeste do Estado. Ana Lúcia está grávida e espera o bebê para dezembro.

“Esse é um ato de desespero. Não me agrada fazer isso e não estou aqui fazendo um circo, mas chamando atenção das pessoas para a situação em que me encontro: sem renda, sem trabalho e com a mulher esperando um filho”. José Hermínio está trabalhando na terra do Sítio Mãe Preta, onde mora, desde a tarde de ontem e só pretende parar amanhã à tarde. Ele diz que já buscou emprego em vários locais. “Acho que é porque sou gringo e já quase um cinquentão. Preciso trabalhar para sustentar minha família”, insiste ele.

Ele diz que, quando veio de Mossoró, depois da separação da mulher, empregou o dinheiro que tinha no sítio localizado no distrito de Quatro Bocas, a 16 quilômetros da sede de Paracuru. A mulher tem uma filha de nove anos, do primeiro casamento, e não recebe pensão.

O casal e a menina vivem numa casa simples construída na entrada do terreno de 3.5 hectares que fica na rua Boa Esperança. Mesmo com a experiência de professor, jornalista e dono de um restaurante em Portugal, José Hermínio diz que, na terra dos conterrâneos, nada consegue. “Não me deram nem o visto permanente de residência no Brasil embora esteja aqui há mais de um ano.

O documento está tramitando na Polícia Federal”. Em 48 horas de trabalho, só pretende fazer pausas de 15 minutos para as refeições ligeiras ou ir ao banheiro, ou ainda de cinco minutos para tomar água ou trocar de roupa. “Em qualquer desses casos, não vou tirar a enxada da mão”, afirma”.

E-MAIS

>A secretária da Saúde de Paracuru, Kélvia Karla Moreira, autorizou a presença de uma auxiliar de enfermagem que trabalha na comunidade Quatro Bocas para acompanhar o português. “Ela vai medir a pressão e ver as condições dele. No local também existe uma ambulância, caso seja necessário”, informou.

>Quando morava em Tibau, uma praia de Mossoró (RN), José Hermínio tinha um restaurante com a primeira mulher. Ana Lúcia, atual companheira, era garçonete do restaurante. “Gostei muito dessa morena e como os casamentos, meu e dela já tinham acabado, resolvemos ficar juntos e vir morar aqui (Paracuru) onde ela nasceu”, diz.


Rita Célia Faheina
ritacelia@opovo.com.br

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