Festa junina que se preza tem pinhão na panela!
O fato de a safra de pinhão coincidir com o início do inverno – e as festas de Santo Antonio, São João e São Pedro – é uma bênção extra para os festeiros. Nada melhor que forrar o estômago com a semente nutritiva do pinheiro brasileiro, quentinha, e depois sair dançando quadrilha e tomando quentão! E a benção se estende a quadrúpedes e voadores, pois não são poucos os animais da nossa fauna para os quais o pinhão é o principal alimento, numa época em que quase não há frutos disponíveis.
O que pouca gente sabe, é das outras participações de produtos da araucária (Araucaria angustifolia) nas mesmas festas juninas. Tem móveis feitos de pinho, claro, pode ser a mesa com os quitutes ou as cadeiras e os bancos para as sinhás e os sinhôs descansarem. Tem também a lenha e o nó de pinho, abastecendo as fogueiras. Mas não é a eles que me refiro, é à resina extraída do nó de pinho por meio de dissolução em álcool.
A resina natural da araucária tem uma composição muito particular, com diversos usos pouco conhecidos. Como ajudar a selar alguns fogos de artifício, de forma a garantir que subam aos céus em segurança e enfeitem a noite de festa em lugar de causar acidentes. Ou servir como verniz alimentício – comestível, sim – na fabricação de queijos e embutidos. Quer dizer, se além do pinhão, a festa tem linguiça, salame ou assemelhados, ali tem araucária também.
Outra aplicação dessa resina é como tinta flexográfica, para impermeabilizar e dar brilho a papéis de presente e outros tipos de papel, como as bandeirinhas coloridas da nossa festa junina ou as imagens do santo do dia pendurada lá no alto do pau de sebo! E ao lado das bandeirinhas, nas lâmpadas que iluminam o arraial, vai resina de araucária igualmente!
Não chega? Pois a versatilidade da resina se estende pelo chão. O produto é usado como impermeabilizante em vernizes de assoalhos; entra na composição de emulsão asfáltica (para vedação) e como aditivo incorporador de ar em concreto e argamassa, detalhe importante quando se quer evitar rachaduras num piso exposto ao tempo – sobretudo aos contrastes entre o calor do sol do meio-dia e o frio da noite estrelada, como acontece no Brasil em junho.
A lista de utilidades da resina natural de araucária abrange ainda peças automobilísticas, colas de tubulações, colas de peças metálicas, tinta para espelhos,verniz para couro e produtos farmacêuticos. E quem detalhou tudo isso, um por um, foi a técnica Rosana dos Passos Ribas, da Esquipar, empresa sediada no Paraná, uma das poucas a comercializar as múltiplas versões da resina de araucária. Rosana explicou, inclusive, como a resina é extraída do nó de pinho, depois passa por uma caldeira a vapor para ser transformada em pasta, em seguida é ventilada em um equipamento especial até se transformar em flocos de mais ou menos um centímetro e então vira quase um pó, parecido com purpurina marrom.
Um viva, então, à ‘purpurina’ de São João! Tão boa lá no alto como aqui no chão!
Foto: Liana John (reflorestamento de araucárias)
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